Hoje vi esta flor por acaso... faz tanto mas tanto tempo que não me lembrava dela. Trouxe-me imediatamente à memória, ao coração, sentimentos adormecidos... sensações inexplicáveis que se as tentasse descrever apenas reduziria em muito a sua importância... mas o carinho e a saudade associada ao Rosmaninho são eternos!
Só lamento por vezes passar tanto tempo sem o recordar.... porque o amor, o carinho, a dedicação, a atenção e os ensinamentos que me transmitiu e que ajudaram a fazer de mim o que sou hoje, mereciam que o lembrasse com muito mais frequência!
Mas independentemente de tudo o Rosmaninho está sempre comigo, faz parte de mim e ainda que por vezes não o lembre conscientemente.... está presente em todas as minhas acções!!!
"A idade vai comendo a vida.
Vai ratando o futuro, e nós (eles) a verem.
Acorda-se com um dia a menos, e adormece-se com um dia a mais.
O calendário vai-nos mudando o corpo.
Vai-nos empurrando as costas, para a queda ser pequena.
Os velhos sabem de cor o chão.
Como quem sabe que está quase a chegar lá.
Desde que perdi a minha avó, que ganhei o respeito por quem mora
no terceiro andar da idade.
Perde-se para ganhar.
E assim foi.
Emociona-me.
Que vida inteira pode ser sentada sozinha, num banco de jardim?
Com a idade, nunca escolhem o meio, sempre o fim do banco.
Em crianças, ter-se-iam sentado na outra ponta?
E deixam-se estar.
Respiram como podem. Os olhos já não procuram nada. Já viram tudo.
Vão guardando o passado em rugas, para libertar a cabeça.
Em que pensam?
Na morte?
Os velhos não vivem. Deixam-se viver.
Os filhos já tem a vida deles, não os querem.
Tem de ir viajar e fazer compras para o jantar.
"O pai tem estado bem? Então vá, um beijinho.
"Picaram o ponto, e para eles está feito.
Os novos choram com o corpo todo, gritam e fazem caras de quem sofre.
Os velhos choram só com os olhos, que o resto não se vê.
E assim o fazem, no fim do telefonema.
Ninguém os quer com as doenças cheias de idade.
As mãos da idade cheiram a tudo, com as veias cansadas de mostrar o sangue a toda a gente.
As pernas vão perdendo caminho.
Os braços deixam de abraçar.
O coração começa a falhar, já bateu demais mesmo para quem amou pouco.
Vai-se esquecendo de bater.
E uma noite, sem avisar, desaprende.
Desliga os olhos e atira o corpo para o fim.
Ocupam agora o banco todo.
Do principio ao fim, todo ele é corpo.
E os filhos, cansados de telefonar, resmungam.
Morreram oitenta e dois anos, e nem mais um dia.
A cidade não pára, o mundo não interrompe, nada.
Os filhos enterram vinte anos, e guardam os outros sessenta e dois.
Os últimos vinte davam trabalho e de pouco valiam.
Não tem vagar para os guardar.
Mas de hoje em diante, esses vinte vão acordá-los todos os dias.
Até se deitarem sozinhos no banco que os vai deitar."
6.5.09
Rosmaninho
Fim do Banco
Bruno Nogueira
Percebo que nós os novos podemos ser cheios de boas intenções... mas vendo bem.... somos egoístas, tremendamente egoístas com quem nos deu o que de melhor temos!..... Eu às vezes fui..... e ainda não aprendi....
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